O Brasil é conhecido por sua alta concentração de renda, onde um pequeno grupo, cerca de 1%, é considerado ‘mais rico’ e detém 28,3% da renda total, tornando o Brasil um dos países mais desiguais do mundo.
Ao Bom Dia Feira, o professor de História da Universidade Estadual de Feira de Santana e presidente da Associação Esperançar Novos Mundos, João Rocha, destacou que o brasileiro que ganha um salário mínimo tem 50% da renda anual destinada somente para os impostos.
‘Hoje, apenas cinco famílias bilionárias no Brasil têm a mesma riqueza acumulada do que toda a metade da população brasileira mais pobre junta. Isso é um crime. A concentração de riqueza no Brasil é tão grande que nós já estamos atrás de Doha, que é um pequeno posto de petróleo no Oriente Médio. E qual o grande problema que nós temos hoje? Uma pessoa que recebe um salário mínimo, ela tem cerca de 50% da sua renda anual confiscada com os impostos aquilo que consumiu’, explica.
Atualmente, cerca de dois terços da população brasileira ganham até um salário mínimo e meio. A má distribuição de renda, segundo o professor, contribui, entre outras coisas, para o aumento do desemprego e homicídio, sobretudo de negros.
‘Eu fui um daqueles que fui escorraçado pela polícia na Assembleia Nacional Constituinte de 88 para garantir o salário mínimo do Diese que antes ninguém tinha direito. Se esse salário mínimo que nós lutamos para colocar na Constituição fosse cumprido, que é o salário mínimo do Diese atualmente, no mês passado seria 6 mil reais e não R$ 1.412. Se esse salário fosse 6 mil, o poder de consumo dele, o poder de diversão dele seria maior e isso geraria milhares de novos postos de trabalho para outras pessoas que nesse momento se encontra desempregado. Enquanto uma pessoa que recebe um salário mínimo, tem quase 50% da renda anual confiscado pelos impostos, daquilo que comeu, comprou remédio, pagou transporte e roupa, uma pessoa que ganha 10 salários mínimos, em vez de ser 50%, são 5%. Logo, nós penalizamos a maioria da população que vive em condição, que não pode morar bem, não pode se educar, não tem espaço a lazer e, portanto, está fadado. Aí você pega aquele jovem que nunca teve acesso a creche a educação, o que a mídia diz para ele? A aparência do corpo vale mais do que a essência. Se você não tem roupa de marca, elétrons de última geração, um super meio de locomoção, você é um zero. É o caminho para a juventude ser cooptada pelo pedófilo e pelo narcotraficante e que cinco, seis anos depois morrer. Em 2017, nós tivemos 65 mil homicídios nesse país. Dos 65 mil, 30 mil jovens entre 15 e 29 anos e, desses, a maioria afrodescendentes, que é literalmente um genocídio afrodescendente. E nós temos que lutar para superar essa desigualdade social, esse genocídio com o povo afrodescendente, e que consigamos conquistar qualidade de vida para toda a população e não apenas para a minoria rica como ocorre hoje’, analiaa.
De acordo com Rocha, é preciso lutar por redução da ordenada de trabalho, por redistribuição de renda e garantir que a nossa população de fato tenha qualidade de vida.
‘Temos dois terços da nossa juventude que nunca teve acesso a creche, a pré-escola, o direito de ver o pai e a mãe lendo pelo menos uma hora por dia, não teve direito à educação, a qualificação profissional. Como é que essa juventude vai concorrer com os filhos da classe média e rica que estudou nos bons colégios de feira, Bahia e Brasil? Eles são fadados a cavar buraco, quebrar pedra e viver na uberização. Nós temos que lutar hoje por redução da ordenada de trabalho, por redistribuição de renda e garantir que a nossa população de fato tenha qualidade de vida, já que dois terços da nossa população não tem acesso a nada daquilo que está lá na lei orgânica do município Feira de Santana, que todo mundo tem direito, nós somos iguais perante a lei, todo mundo tem direito à moradia digna, à alimentação, saúde, educação, lazer, cultura, trabalho decente, segurança pública e certamente dois terços da nossa população, particularmente a infantil e a idosa não podem usufruir disso. Então, urge lutar para garantir qualidade de vida para todos e que a Constituição Federal seja cumprida e o salário mínimo seja implementado para toda a população’, destaca.
Com informações do repórter Joaquim Neto/ Bom Dia Feira