Moradores do bairro de Valéria, em Salvador, voltaram a protestar nesta terça-feira (17), após a morte do jovem Wendel de Aragão Pinto Ferreira dos Santos, de 18 anos, durante uma ação policial na localidade da “Lagoa da Paixão”.
O grupo queimou pneus para fechar a entrada da comunidade, além de arremessar pedras e garrafas contra policiais militares que estavam no local. Os agentes revidaram com tiros de bala de borracha. Uma mulher foi atingida na perna.
Alguns manifestantes também seguraram bexigas nas cores preta e branca, e cartazes com mensagens de luto e pedidos de justiça. O policiamento foi reforçado na área e equipes do Corpo de Bombeiros foram acionadas para combater as chamas.
“E se fosse o filho de vocês? Se fosse um policial? Estava todo mundo correndo atrás. Vocês vão deixar esses ‘amaldiçoados’ passar em vão com o que fizeram com o meu sobrinho? Atiraram pelas costas. Não existe isso. Eu quero justiça”, disse um tio de Wendel, que não quis se identificar.
Por causa do protesto, uma moradora passou mal e precisou ser retirada de casa por um vizinho, com a ajuda de um carrinho de mão. A ação foi necessária porque a ambulância do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), que foi acionada, não conseguiu acessar o imóvel, devido aos bloqueios.
Relembre caso
O protesto realizado nesta terça-feira é o terceiro feito pela família e amigos dos jovens, que alega que a dupla foi atingida por policiais mesmo após estar rendida. A Polícia Militar afirma que houve um confronto na noite de domingo (15), o que os parentes negam.
“O menino já estava rendido. Ele atirou pelas costas, a sogra dele viu, está todo mundo de testemunha. Cadê a droga que não apareceu? Cadê a arma?”, questionou o tio de Wendel, que acrescentou que a família já estava em luto, já que a avó do jovem morreu há três meses.
Wendel dos Santos foi atingido com um tiro na barriga e estava internado em estado grave no Hospital do Subúrbio. Na segunda-feira (16), a morte dele foi constatada.
O jovem andava de motocicleta com um amigo, que também foi baleado, mas recebeu alta hospitalar ainda no domingo e se recupera em casa.
O corpo de Wendel dos Santos será sepultado na quarta-feira (18), no Cemitério Vale da Saudade, na cidade de Candeias, na Região Metropolitana de Salvador.
Comunidade sem ônibus e aulas
Por causa da sensação de insegurança, a Secretaria de Mobilidade (Semob) informou que os ônibus do transporte público seguem sem circular na manhã desta terça na região de Lagoa da Paixão, além dos bairros de Vista Alegre e Valéria.
Os coletivos passam pela BA-528, contudo, não acessam as localidades. Já em Fazenda Coutos, o serviço de transporte foi mantido com uma alteração de itinerário no percurso.
As linhas do bairro que utilizam a BA-528 foram desviadas para a Avenida Afrânio Peixoto, conhecida como “Suburbana” e de lá seguem os itinerários de origem.
A Secretaria Municipal de Educação (Smed) informou que, pelo mesmo motivo, suspendeu as aulas das escolas municipais Professor Ítalo Gaudenzi e CMEI Paulo Bispo Braz, que juntas têm 890 alunos, em Nova Brasília de Valéria.
Cerca de 500 alunos do turno matutino das escolas municipais Nossa Senhora Aparecida e São Francisco de Assis, no bairro de Valéria, também tiveram as aulas suspensas.
Quem era Wendel
Segundo familiares do jovem, Wendel dos Santos era órfão de mãe e o pai dele mora em outro estado. Ele era criado pela avó, que morreu há três meses.
A família afirma que o rapaz não tinha envolvimento com a criminalidade. A rotina dele era dividida entre o trabalho e os estudos. Wendel conseguiu o primeiro emprego como repositor de um mercadinho do bairro do Rio Sena, no subúrbio de Salvador, há quatro meses.
Após a carga horário de trabalho, ia para a escola, onde frequentava o 6° ano do ensino fundamental. Wendel não tinha carteira de habilitação para pilotar moto. O veículo que ele estava durante a ação policial, era do vizinho dele e está com os documentos em dia.
Versões conflitantes
Um comerciante da região relatou que confraternizava com a família, dentro de casa, quando ouviu os disparos. Ele afirma que os policiais atiraram nos jovens enquanto tentavam fazer uma abordagem. Ainda segundo o morador, a dupla não estava armada.
“Quando eu saí, ele [o policial] já estava atirando no rapaz. Eu e minha família começamos a gritar para ele não atirar no rapaz, mas ele continuou atirando, depois virou a arma e atirou na nossa direção”, afirmou o comerciante.
Em nota, a Polícia Militar informou que equipes da 31ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) faziam rondas na região quando encontraram homens armados, em motocicletas. Ao perceberem a presença da polícia, os suspeitos atiraram nos agentes, que revidaram. Os dois jovens citados como suspeitos pela corporação foram baleados.
Relato dos moradores
👉 Segundo os moradores, os dois jovens estavam sem capacete quando três policiais ordenaram que eles parassem. A dupla seguiu por mais alguns metros e parou na frente de uma casa, em um trecho da rua que estava iluminado.
👉 Foi quando, segundo a PM, houve o confronto.
👉 Conforme os moradores, os policiais atiraram nos jovens, que já estavam rendidos e de costas.
“Segundo eles, deram a voz de parada, porque os meninos estavam sem capacetes, no escuro. Quando se sentiram seguros, aqui na frente, que se renderam, eles atiraram”, relatou um morador.
Fonte G1 Bahia