O líder espiritual Kleber Aran Ferreira da Silva, de 50 anos, foi condenado pela Justiça da Bahia a 20 anos e cinco meses de prisão em regime fechado por violação sexual mediante fraude contra três mulheres que frequentavam a Associação Sociedade Espírita Brasileira Amor Supremo (Sebas), em Salvador.
A condenação foi divulgada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) na tarde desta segunda-feira (11), dois dias após o homem ter sido preso durante um evento aberto ao público em que seriam realizadas supostas cirurgias espirituais. Ele também foi condenado ao pagamento de uma indenização de R$ 50 mil por danos morais para cada uma das três vítimas (veja detalhes abaixo).
Kléber Aran Ferreira da Silva diz incorporar o espírito do médico alemão Adolph Fritz, conhecido popularmente como Dr. Fritz. As investigações apontam que ele se aproveitava da fragilidade de fiéis e cometia os abusos.
Segundo o MP-BA, ele operava um “esquema de abuso de poder e manipulação psicológica”, atraindo seguidores em busca de cura e orientação espiritual. O homem utilizava a posição de líder para assediar mulheres vulneráveis, convencendo as vítimas de que manter relações com ele era necessário para fornecer “energia sexual” para as entidades.
As vítimas, conforme o MP, relataram que eram coagidas a consumir bebidas alcoólicas durante os encontros, o que facilitava os abusos por parte do líder espiritual.
O g1 tenta localizar a defesa de Kléber Aran, mas não havia obtido retorno até a atualização mais recente desta reportagem.
Ao decidir pela condenação, a 4ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Salvador destacou a gravidade das ações, ressaltando que o homem explorava a fé e o lado emocional das seguidoras para satisfazer seus desejos, e que os abusos foram praticados por um longo período e de forma reiterada.
A Justiça também expediu o mandado de prisão contra ele. A ordem foi cumprida por equipes do Departamento de Proteção à Mulher, Cidadania e Pessoas Vulneráveis (DPMCV) da Polícia Civil no bairro da Pituba, onde fica o templo.
Denúncias surgiram em 2020
A denúncia contra Kleber Aran foi oferecida à Justiça pelo Ministério Público da Bahia, por meio da 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos de Salvador e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que instauraram uma investigação própria a partir de notícias de abusos encaminhadas à Ouvidoria do Conselho Nacional do Ministério Público pelo projeto “Justiceiras”, que atua na proteção dos direitos de mulheres e no combate à violência de gênero.
Em setembro do 2020, o órgão recebeu relatos de quatro pessoas, das quais três eram mulheres, todas da capital baiana. A polícia e o MP não confirmaram se essas três pessoas são as mesmas que procuraram o órgão estadual há pouco mais de quatro anos.
Na época, a defesa de Kléber Aran disse que as acusações eram falsas.
Em abril de 2021, o MP-BA cumpriu mandados de busca e apreensão na “Operação Cristal”, desencadeada por meio de atuação conjunta do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e da 24ª Promotoria de Justiça de Salvador. O objetivo era complementar as provas das práticas ilícitas relatadas pelas vítimas.
Na época, o MP-BA divulgou que elas eram levadas a participar de rituais supostamente religiosos, mas que serviam, na verdade, para “satisfação dos desejos libertinos” do investigado. O órgão detalhou que o suspeito conseguia o silêncio da pessoas por meio de ameaças à integridade física e mental.
Durante as investigações, foram apresentados pelas vítimas ao órgão estadual arquivos de áudio extraídos de conversas de aplicativo de mensagens, revelando “as ações de Kléber Aran para submetê-las à sua lascívia, após criar a ilusão de que teriam sido escolhidas para serem as guardiãs do Cristal”.
Ainda conforme informações do MP, essas pessoas eram cercadas de uma atmosfera de confiança e apreço, levadas a acreditar que a conduta do investigado partia de necessidades espirituais. Após a concretização dos crimes, ele submetia as mulheres a “situações de humilhação e subserviência, permeadas por forte violência espiritual, psicológica, sexual e até financeira”.
Quem é o líder espiritual
Kléber Aran Ferreira da Silva afirma incorporar o espírito do médico alemão Adolph Fritz em seus atendimentos. O líder religioso chega a falar com sotaque estrangeiro durante os chamados momentos de cura.
Nas redes sociais, ele se diz “eleito três vezes como o maior paranormal da América do Sul”, e também se apresenta como médium de efeito físico, terapeuta holístico e reiki 7º nível.
Através da internet, o líder religioso vende o curso “Despertando a Intuição: Uma Jornada para o Crescimento Pessoal e Profissional”, que custa R$ 197. “Ao adquirir este curso de crescimento pessoal e profissional com Mestre Aran, você não apenas aprimora suas habilidades intuitivas, mas também se torna um agente de mudança na vida das pessoa”, diz a descrição do curso.
Ele é líder religioso do templo Amor Supremo, na capital baiana, há 27 anos, mas também fazia atendimentos em outras cidades como São Luís (MA), Manaus (AM), e Maceió (AL).
Fonte G1 Bahia