A mãe do jovem Marcelo Daniel, de 19 anos, que morreu na madrugada desta quarta-feira (28), quatro dias após ser baleado durante uma operação da Polícia Militar, no bairro do Nordeste de Amaralina, contou que o filho foi assassinado após se render.
“Eu estou dilacerada, porque meu filho morreu inocente. Meu filho morreu suspendendo as mãos. Quando a gente faz essa posição, ele diz o que? Eu me rendo”, disse Evanir, mãe de Marcelo.
Segundo a mãe da vítima, Marcelo não tinha envolvimento com crimes e jogava futebol amador. Ela pede uma resposta da Corregedoria da Polícia Militar, já que os moradores contam que policiais da corporação entraram na localidade atirando.
“Eu sou mãe, sou vítima. Eles deixaram uma sequela na minha família. O Estado me diz o que? Eu sou cidadã, contribuo, sou servidora, e aí? Vai chegando, tirando um ente querido do seio da família e vai ficar por isso mesmo? Até quando?”, questionou.
Evanir ainda afirmou que foi impedida de tocar no filho, depois que ele foi baleado.
“Quando eu vou em direção ao meu filho baleado, impede que eu me aproxime. Eu não consegui chegar perto do meu filho, porque fui impedida. Eu perguntava para eles: ‘Por que vocês fizeram isso com meu filho? Dê socorro ao meu filho, porque ele vai terminar chocando, está perdendo sangue'”.
“Foram as minhas palavras. ‘Calma, senhora, você está nervosa’. Em uma situação dessa é para eu estar como?”, relatou.
‘Não vamos nos calar’
Foto: Reprodução/TV Bahia
Mateus, irmão de Marcelo, também criticou a ação da polícia, e contou que o jovem andava na rua quando foi baleado.
“Meu irmão tinha 19 anos, sonhador, jogador de futebol. Todo mundo aqui está de prova, meu irmão era envolvido, não se metia com nada disso. Ele estava simplesmente passando pela rua onde morava”.
Após a morte do jovem, Mateus disse que vai lutar por justiça.
“Nós moramos na comunidade, no complexo, nós somos pretos. Não é porque nós somos pretos, que nós não temos educação, que não temos estudo”.
“Não vamos nos calar, não vai ficar assim. Meu irmão morreu inocente e não vai ficar assim. A rua não tem luz e eles [policiais] se aproveitam disso para chegar aqui da forma que quiserem. Marcelo Daniel vai ter justiça”, concluiu.
Caso
A ação policial aconteceu na véspera de Natal. Além de Marcelo, um homem de 34 anos, identificado como Adeilton, também foi baleado e está internado no Hospital Geral do Estado (HGE).
Daiane, irmã de Adeilton, disse que ele foi atingido por quatro tiros e passou por duas cirurgias.
“Estávamos em um momento de Natal em família, se divertindo e eles [policiais] chegaram atirando. Se não fosse o pessoal aqui, eles iriam matar meu irmão, dizer que foi troca de tiros e jogar drogas em meu irmão [para armar um flagrante]”, relatou revoltada.
Por meio de nota, a PM informou que equipes da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT)/Rondesp Atlântico localizaram homens armados que, ao avistarem as equipes, teriam atirado contra os policiais. Conforme informações da unidade, houve revide, mas os suspeitos fugiram.
Ainda na nota, a PM disse que, em outra localidade, conhecida por Alto do Capim, moradores informaram que havia um homem baleado, sem indicação de autoria ou circunstância. Os militares prestaram socorro e encaminharam o ferido para o HGE.
Em outro ponto, conhecido como “Cracolândia”, a equipe foi acionada para atendimento de outro homem ferido em via pública, segundo a PM. Ele também foi socorrido pelos policiais para o HGE. As ocorrências foram registradas no posto policial da unidade de saúde.
O caso é investigado pela Polícia Civil.
Moradores pedem justiça
Moradores do Nordeste de Amaralina se reuniram, na segunda, para pedir justiça pelo ocorrido. Eles seguraram cartazes com diversas frases como: “queremos paz”, “queremos respeito” e “as crianças não podem brincar”.
A mãe de Marcelo disse que a situação é recorrente no local. “Sempre acontece da mesma maneira. Eles [policiais] vêm por aqui e deixam a viatura do outro lado, fazem um cerco”, explicou Ivani.
A irmã do outro morador baleado criticou o modo como os policiais agiram na região. “Eles [policiais] têm que fazer o trabalho deles, não é [ir] chegando e atirando, porque ninguém aqui é vagabundo. Todo mundo aqui trabalha”.
“Uma coisa é chegar e falar: ‘estamos aqui abordando, verificando’. Agora chegar atirando… Cadê os tiros? Cadê a arma? Meu irmão está lá no hospital com quatro balas, passou por duas cirurgias, está de sonda. Como vai ser a vida da minha família agora? E os gastos que a gente vai ter?”, questionou.
Fonte G1 Bahia