Ainda é muito baixo, o número de mulheres ocupando espaços no universo científico no Brasil. E para aquelas que conquistam este espaço, em sua maioria, ganham um lugar de destaque. Esse é o sonho da estudante de Física da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Viviane Brandão Silva Leite.
Natural do município de Governador Mangabeira e atualmente residindo em Feira de Santana, a jovem de 23 anos já idealiza seu futuro acadêmico através do seu curso de paixão: a Física e as ciências exatas.
Mas, o sonho de Viviane em ocupar um espaço nesta área começou antes mesmo da fase acadêmica. Ainda na infância, o sonho da estudante era ser astronauta. Foi aí o pontapé inicial para trilhar a carreira profissional cheia de prazeres e desafios.
Em um bate-papo descontraído, a estudante contou ao Acorda Cidade os projetos para o futuro e os principais desafios no ramo científico na igualdade de gênero. Viviane também relatou por que decidiu escolher o curso, além de contar com um diferencial nesta trajetória: o apoio da família.
“Na minha infância, meu sonho era ser astronauta porque eu tinha um fascínio muito grande pelos corpos celestes, a lua, o sol e outras estrelas, me despertavam bastante curiosidade. Quando cresci e decidi fazer faculdade, o apoio familiar foi e é importante em qualquer decisão que a gente toma na vida, mas especificamente em Física, para mim, que sou mulher, foi importante em dois quesitos. O primeiro deles foi o apoio financeiro, do qual recebi apoio, e o segundo foi a questão do estímulo, do apoio emocional, do incentivo, que é muito importante, a família está entendendo o que a pessoa está fazendo, a importância disso, então isso afeta consideravelmente”, destacou.
Jornada acadêmica
Atualmente cursando Física na Uefs, Viviane Brandão logo iniciará o mestrado em Física Matemática e provavelmente, um doutorado em ciências exatas. Mas, mesmo com um currículo em que acumula experiências, a estudante ainda contou que precisou vencer seus medos para seguir com os estudos no curso que escolheu para a vida. Um deles foi driblar os palpites negativos de colegas de turma.
“Tive alguns desafios iniciais. O primeiro deles foi o medo de perder nas disciplinas, sobretudo as disciplinas de cálculo, que eram muito comentadas por todo mundo como as piores disciplinas e eu me deixei influenciar bastante por esses comentários, antes de ter as minhas próprias experiências. Então, isso acabou me prejudicando consideravelmente. Mas nos semestres subsequentes, eu vi que essas disciplinas não eram tão difíceis como diziam e as coisas foram fluindo de forma mais natural para mim. O segundo grande desafio foi a questão da carga horária, porque o curso de Física, além das aulas teóricas, laboratórios, exige muitos estudos independentes, muitas listas de exercícios. Então, eu tive que aprender a gerenciar esse tempo de forma eficaz”, contou.
Desafios
Como citado no início desta reportagem, não é muito comum ver mulheres ocupando espaços no universo científico no país. E, mesmo que esteja no início do percurso, a desigualdade de gênero pode desencadear o desencorajamento e a desistência do curso, principalmente nas áreas de ciências exatas.
E para Viviane, infelizmente, não foi diferente. Ela também contou que no início da fase acadêmica se sentiu intimidada, diante da falta de representatividade de mulheres nestes ambientes.
“Infelizmente eu já me senti excluída e silenciada no ambiente acadêmico, algumas vezes eu senti a necessidade de provar que sou boa para que as pessoas pudessem me escutar, levar em conta o que eu estivesse falando. Além disso, o ambiente acadêmico, em Física especificamente, é um ambiente que tem pouquíssimas mulheres, então isso por si só já é bastante intimidador para as poucas mulheres que estão ali, além da falta de referência feminina na Física, especificamente na minha área. Eu tive que aprender a me impor mais, a falar mais e ao longo do tempo ser minha própria referência”, relatou.
Pensando em cursar doutorado posteriormente, Viviane já exercita tudo o que aprendeu através de aulas particulares em que disponibiliza aos estudantes do Ensino Superior nas áreas de Engenharia, Economia e Biologia. Porém, mesmo com uma rotina de estudos e trabalho, ela também viabiliza um pequeno período na sua rotina para descansar e praticar seus hobbies.
“Bom, eu tenho poucas horas vagas, então eu gosto geralmente de assistir, de ouvir música, de interpretar poemas. Também gosto muito de literatura e de dormir. Dou aulas particulares para estudantes de ensino superior, especificamente nos cursos de Engenharia, Economia e Biologia. Tem dois anos, mais ou menos, que eu estou dando aulas particulares. Dou aula e acabo aprendendo bastante com isso também”, contou ao Acorda Cidade.
Incentivo
Assim como o desejo de chegar a um lugar de destaque na área, Viviane Brandão também incentiva jovens e mulheres que sonham em seguir uma carreira na ciência e especialmente nas áreas de Física e Matemática. Para ela, o segredo para um futuro promissor na carreira acadêmica é estudar, participar de novas experiências na área e não se deixar intimidar diante da desigualdade de gênero.
“O primeiro passo é estudar o básico. Muitas pessoas acabam entrando no curso de Física querendo estudar, logo de cara, assuntos avançados. Então, ter uma base é muito importante, uma base consolidada, especificamente para Física, Matemática, é importante que a pessoa tenha um conhecimento básico em Matemática. Então, na universidade, cursar disciplinas no curso de Matemática ou aprofundar as disciplinas de Cálculo, Álgebra, são muito importantes. Outra questão é participar dos programas da universidade, que a universidade pública tem muito mais a oferecer do que as aulas, então, participar de monitorias, iniciação científica desde cedo é muito importante. A segunda etapa é participar de eventos fora da universidade de origem, isso é relevante também para conhecer pessoas, conhecer outros projetos, professores e instituições. E por fim, não se deixar intimidar pelo ambiente majoritariamente masculino”, finalizou.
Fonte Acorda Cidade