O tio da mulher mantida em cativeiro por quase 10 anos se entregou à Polícia Civil na Delegacia de Linhares, no Norte do Espírito Santo, na segunda-feira (14). O homem de 43 anos foi até a delegacia acompanhado do advogado e apresentou provas que serão analisadas pela Justiça.
A defesa do tio informou que a denúncia de cárcere privado foi fabricada pela vítima e que os dois viviam como um casal.
A jovem de 25 anos foi libertada no final de setembro, em Jucuruçu, no extremo Sul da Bahia. Desde então o tio tinha fugido e era considerado foragido.
A vítima de 25 anos era considerada desaparecida desde 2015, quando morava em Rio Bananal, Norte do Espírito Santo. Ela foi encontrada em um cativeiro localizado em uma área de difícil acesso no dia 20 de setembro.
O chefe da Delegacia Regional de Linhares, delegado Fabrício Lucindo, comentou que o advogado do preso entrou em contato semanas antes do suspeito se entregar.
“A Polícia Civil de Rio Bananal, que pertence a Delegacia Regional de Linhares, finalizou nesta quinta-feira a investigação e crime de sequestro, estupro e cárcere privado. Nós conseguimos resgatar a vítima no dia 19 de setembro, naquele momento o suposto autor do crime fugiu. Na semana antes da eleição o advogado dele entrou em contato com a polícia, informando que ele queria dar a versão dos fatos mas estava com medo de ser encontrado e sofrer algum revés por conta do crime. Na segunda-feira ele se apresentou para a polícia, foi cumprido o mandado de prisão temporária. Ele foi interrogado, deu a versão dos fatos dele, contestou as versões que a moça apresentou e apresentou as provas que ele achava que fossem pertinentes”, destacou o delegado.
Após se entregar, o homem foi preso e encaminhado para o Centro de Detenção Provisória da Serra, na Grande Vitória, onde ficam os presos que cometem crimes sexuais. O inquérito agora foi encaminhado para a Justiça.
O advogado de defesa disse que ainda nesta quinta-feira (17) vai representar pela liberdade provisória na vara de Rio Bananal.
Reencontro emocionante
No dia em que foi resgatada, a jovem reencontrou o pai. O momento emocionante foi gravado pela Polícia Civil (confira ao longo da reportagem).
A jovem só conseguiu pedir ajuda depois que o suspeito deu um celular para ela. Com o aparelho, a vítima solicitou o resgate. “Ela criou uma conta na rede social Instagram e conseguiu pedir ajuda. Foi a partir daí que conseguimos montar a operação”, disse o delegado.
O pai da vítima contou sobre a emoção de reencontrar a filha pela primeira vez após tantos anos e relatou que a família nunca perdeu a esperança de encontrá-la.
“Foi muito bom. Eu não sabia se chorava de felicidade por estar abraçando ela ou tristeza de ver ela naquela situação precária. Pelo o que eu vi lá, era uma situação difícil, não era isso que eu queria para a minha filha. Minha filha ficou 10 anos fora de mim. Foram 10 anos de sofrimento, a gente aqui preocupado, lutando, pedindo ajuda. E quando a gente conseguiu, a gente fica sem chão. Alguns dias eram mais difíceis que os outros. Mas eu nunca perdi a esperança, sempre acreditei”, disse o pai.
Além de libertar a vítima, a Polícia Civil apreendeu no local três armas de fogo de fabricação caseira, incluindo uma arma calibre 12 e um revólver calibre 38, além de munições e documentos falsos. As armas não possuem autorização legal.
Relembre o caso
A ação da polícia teve o nome de “Operação Resgate” e foi coordenada pela Superintendência de Polícia Norte e da 16ª Delegacia Regional de Linhares, com o apoio da Delegacia de Polícia (DP) de Rio Bananal e da Promotoria de Justiça de Rio Bananal.
Durante todo o tempo em que foi mantida em cativeiro, a jovem sofreu diversas agressões físicas e verbais, e chegou até a engravidar do tio.
A jovem teria começado a ser coagida em 2014, quando o suspeito cometeu o primeiro abuso sexual contra ela ao descobrir que mantinha “paqueras” na escola.
A vítima relatou que, durante esses anos, sofreu abusos sexuais, era mantida trancada e sob ameaças de morte, inclusive contra seus familiares, caso tentasse escapar. Também era forçada a trabalhar na roça.
“Ele a vigiava o tempo todo e nunca permitiu que ela frequentasse a escola. A vida dela era completamente controlada por ele. A vítima passou por vários locais, incluindo a capital Vitória, onde viveu por três anos, antes de ser levada para Jucuruçu. Durante todo o tempo, ela foi obrigada a trabalhar na roça e recebia apenas R$ 100,00 por mês”, afirmou o delegado Fabrício Lucindo.
A jovem foi sequestrada aos 15 anos em Rio Bananal, no norte do Espírito Santo, e levada para Teixeira de Freitas, no extremo sul da Bahia. Na época, ela deixou uma carta para a família.
Ao chegar a Bahia, passou a ser deixada trancada em casa. O suspeito dizia que se ela tentasse fugir, mataria ela e a família. Desde então, só saía de casa acompanhada do suspeito e era vigiada todo o tempo e não permitia que ela fosse à escola e era constantemente agredida fisicamente.
O suspeito monitorava conversas ocasionais dela com outras pessoas. Tio e sobrinha viajavam apenas de carro, nunca de ônibus.
Por conta dos abusos sexuais, ela engravidou dele, mas o bebê morreu 21 dias após o nascimento.
Ela foi levada pelo suspeito para outras cidades, como Vitória, no Espírito Santo, e depois para Jucuruçu, onde chegou com 18 anos. Era obrigada a trabalhar na roça e o suspeito lhe dava R$ 100.
Fonte G1 Bahia