Dois homens foram presos, nesta quarta-feira (4), por oferecer serviços odontológicos em uma banca de madeira no bairro da Liberdade, em Salvador. Materiais como alicate de unha e pinça eram usados nos procedimentos.
De acordo com Associação Brasileira de Odontologia, os procedimentos feitos por um profissional não capacitado e sem a devida higienização podem causar diversos riscos, que vão de problemas na mastigação até a perda dos dentes.
Os serviços eram oferecidos na rua Lima e Silva, um dos principais locais de comércio popular na capital baiana. Na frente de uma das barracas, os procedimentos eram listados em um cartaz:
- borracha para aparelho ortodôntico;
- ferrinho de aço;
- colocação e remoção de aparelho;
- limpeza de aparelho;
- manutenção de aparelho;
- colocação de piercing.
Nesta quarta, além das prisões, o material odontológico que era vendido nas barracas foi apreendido em uma operação conjunta da Secretaria de Ordem Pública (Semop), Vigilância Sanitária e Conselho Regional de Odontologia (CRO-BA). Os suspeitos foram identificados como Ubiratan Silva Souza e Robson Araújo.
Em entrevista a TV Bahia, Robson Araújo afirmou que não é dentista e que aprendeu a aplicar o aparelho odontológico sozinho.
“É minha maneira de sobreviver. Eu usava aparelho e aprendi sozinho, fazia comigo”, contou.
De acordo com o CRO-BA, sem contar com as prisões desta quarta-feira, cinco pessoas foram presas por exercício ilegal da profissão na Bahia neste ano. A pena para este tipo de crime é de seis meses a dois anos.
Os dois suspeitos presos no bairro da Liberdade foram levados para a delegacia, onde prestarão depoimento. Eles devem responder o processo em liberdade.
Atendimentos feitos na rua
Nas redes sociais, o homem divulga os serviços desde 2019. Ele publica fotos de antes e depois referentes a aplicação de aparelhos ortodônticos e restaurações.
Em uma situação flagrada pela TV Bahia no bairro da Liberdade, uma das pacientes foi atendida encostada em um muro, na rua. O homem colocou luva descartável em apenas uma das mãos e os materiais utilizados foram pinça e alicate de unha.
Na ocasião, em conversa com um produtor da emissora, Robinho contou que cobrava R$ 160 para colocar aparelho ortodôntico e que não realiza exames de imagem.
Segundo a vice-presidente da Associação Brasileira de Odontologia, Fátima Cabral, os raio-X precisam ser feitos antes da aplicação do aparelho para que o profissional verifique as posições dos dentes e dos ossos.
“A gente tem que pensar para onde movimentar o dente, qual força utilizar. São necessários exames antes de começar o tratamento, ver como osso está, tudo isso é planejado. Uma pessoa que não tem acesso a esse conhecimento, não tem como planejar”, afirmou.
“Moda” dos braquetes
Além dos serviços odontológicos oferecidos por Robson, é possível encontrar “borrachinhas” de aparelho, material que fica envolve o braquete, sendo vendidas em diversas barracas de camelô da região. Os vendedores afirmam que, caso o cliente queira, eles também aplicam o material no local.
O uso dos braquetes se tornou uma questão estética. Muitos dos que aderem à moda não colocam as outras partes que compõem o aparelho ortodôntico, como o tubo e as ligaduras metálicas. Nesse caso, o aparelho não cumpre sua função: movimentar os dentes, corrigindo suas posições na arcada dentária.
Os que colocam todos os elementos do aparelho, mas sem os exames prévios, por exemplo, podem sofrer danos irreversíveis.
“Pode haver uma força excessiva e, junto com a má escovação, uma perda óssea. O osso ao redor do dente vai sendo reabsorvido, ou seja, some. Se esse esse osso some, o dente fica mole e pode cair. Além disso, a gengiva retrai e pode haver exposição da raiz do dente”, explicou a vice-presidente da Associação Brasileira de Odontologia.
Em 27 de agosto, um outro homem foi preso em Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia, por exercício ilegal da profissão. Um dos pacientes atendidos por ele ficou 12 dias internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após ficar com o rosto paralisado.
Além dos riscos à saúde, a venda de produtos odontológicos no mercado informal não é permitida. Apesar dos itens serem encontrados na internet, nas lojas especializadas o dentista precisa apresentar a identificação do Conselho Regional de Odontologia para adquirir os materiais.
De acordo com Alysson Carvalho, diretor de operações Semop, vendedores ambulantes não podem vender esse tipo de produto.
“O ambulante não tem possibilidade de vender nenhum tipo de produto relacionado a saúde pública. Esses equipamentos são devidamente controlados pelos seus respectivos conselhos e precisam ser comprados nos locais adequados”, afirmou.
Segundo Andréa Salvador, diretora da Vigilância à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o órgão atua junto com a Semop e com o CRO-BA para a fiscalização de casos como estes. Ela afirma que a população deve denunciar o exercício ilegal de profissão através do número 156.
Fonte G1 Bahia