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Ele honrou a camisa cinco do Fluminense, assim como Hosanaah, Nilsinho, Paraíba II, Chinesinho, seus antecessores. Passadas largas, leve, fôlego de nadador, estava em todos os pontos do gramado. Loquaz, brincalhão, fez amigos dentro e fora de campo. Carioca, tornou-se feirense e aqui continua, mas, desde 2021, sofre com lapsos de memória.

Merrinho (Roberto Basílio dos Santos), o maior feirense de todos os cariocas que já pisaram na Terra de Maria Quitéria, pode-se dizer que já faz parte da história da cidade e assim deve permanecer pela sua vitoriosa carreira no futebol – campeão baiano de 1969 pelo Fluminense de Feira Futebol Clube – e pela sua vivência na terra que ele elegeu para se radicar, fincando raízes familiares e amizades de forma tão profunda que dificilmente serão rompidas.

Campeão carioca juvenil de 1965 pelo Flamengo, em um time de muita qualidade que reunia uma plêiade de jovens talentosos, como o centroavante Cesar “Maluco” (recentemente falecido), assim chamado pelo seu destemor em campo, o que lhe valeu gols importantes, Juarez, Rodrigues, Gilson, João Daniel, Ubirajara, Osmar, Cesar Marques, dentre outros, Merrinho veio para o Fluminense em 1968, trazido pelo técnico Walter Miraglia, juntamente com Itamar, João Daniel, Cesar Marques, Mario Braga, Osmar, Sapatão e Nico, todos oriundos do rubro-negro.

Aqui, de lateral direito, com a camisa dois, passou a atuar como volante, camisa cinco, posição antes ocupada no tricolor por jogadores talentosos como Hosana Bahia, Nilsinho, Paraíba II, Osmar e Chinesinho. Verdadeiro dínamo, com passadas largas e fôlego dobrado, ele estava no meio do campo, no ataque e na defesa, multiplicando-se no gramado, como se fossem três camisas cinco no gramado e não uma. Essa facilidade e vontade de jogar, demonstradas sempre em qualquer circunstância, fez do volante carioca um ídolo da torcida.

Fora das quatro linhas, era o mesmo carioca/feirense, andando pela cidade toda, sem jamais deixar de cumprimentar um amigo, ou até mesmo qualquer desconhecido que por ele passasse e o olhasse com simpatia. Conquistou Feira de Santana dentro e fora dos gramados, e a Princesa lhe acolheu como filho querido há 56 anos, portanto, muito mais do que ele viveu na sua terra natal.

Da equipe campeã baiana de 1969, dentre os que não eram de Feira de Santana, apenas permaneceram o lateral esquerdo Nico (falecido) e Merrinho, que ainda atuou no Galícia da capital e logo voltou. Com seus conhecimentos e a experiência obtida durante anos no gramado, Merrinho foi técnico do Fluminense de Feira, do Sport Jacuipense e da seleção de Feira de Santana, ocupando ainda, com destaque, o posto de comentarista esportivo da Rádio Carioca de Feira. Ele também investiu em alguns empreendimentos, como uma fábrica de materiais esportivos e uma empresa de extintores.

Os demais companheiros que vieram do Rio de Janeiro seguiram a carreira do futebol em outras equipes. Por que Merrinho, muitos torcedores até hoje questionam o “nome de guerra” do excelente volante do Touro. Guri no Rio de Janeiro, ele ia pegar peladas com o irmão mais velho, conhecido como Merro. Assim, de Roberto ou Beto, ele passou a ser Merrinho. Como existe um pássaro chamado merlo, é possível que tenha surgido daí o apelido do irmão, se bem que há outros significados para essa palavra. A segunda geração de volantes na família começou através de Pablo, nascido em Feira, com um bom futebol, mas que não prosseguiu na atividade.

Em 2021, Merrinho começou a apresentar sintomas de esquecimento, ou lapsos de memória, semelhantes ao Alzheimer, inclusive perdendo-se em locais que ele conhecia perfeitamente, e sua esposa, Edileuza, tem sido sua guardiã, zelando por ele de forma admirável. Edileuza Silva Barbosa Santos, natural de Retirolândia, casada com Merrinho há cerca de 40 anos, relata que a vida atual do “cinco de ouro” do Fluminense resume-se em: dormir, fazer as refeições e assistir televisão, sem demonstrar interesse. Uma imagem absolutamente oposta ao verdadeiro Merrinho, extremamente ativo, participativo e cordial.

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